Embarco no trem da nostalgia. Como em todos os trens a viagem às vezes é penosa, me transportando por caminhos sofridos e às vezes com lembranças muito tristes. Mas como em todas as viagens, inúmeras paradas irão surgir para o momento de descanso e para que o restante do trajeto seja mais bem aproveitado. Assim, sigo em frente, revendo imagens, revivendo cenas, ouvindo sons e sentindo todos os cheiros de uma época, que deixei adormecida num cantinho qualquer de minha memória. A emoção toma conta. À medida que a viagem prossegue e quanto mais o trem da nostalgia se apressa mais sentimentos dominam meu coração, que dispara a cada lembrança nova ou a cada imagem renascida. De repente… Uma parada. Parece que naquele momento não é possível prosseguir e que, por um tempo indefinido, irei me deparar com alguma lembrança mais forte que precisará ser explorada. Neste momento saio do trem e magicamente me vejo no Jardim de Infância lá da Fábrica Melhoramentos em Caieiras. O ano é 1.963 e eu estou com 6 anos. A Professora é Dona Therezinha Reinz, a Diretora é Dona Marilia Salles também responsável pelo Grupo Escolar Alfredo Weiszflog.
Fecho meu olhos por instantes e consigo ver a casa em frente ao Grupo onde tudo aconteceu. Toda em tijolo à vista, janelas e portas verdes e uma cerca de arame com portão também verde. Na sala de aula, mesinhas e cadeiras pequenas, baixas e próprias para crianças de 5 ou 6 anos como eu. Atrás, um quintal com árvores, gramas, flores e brinquedos como balanças e escorredor para a criançada se divertir na hora do recreio. Na parte inferior da casa os sanitários masculino e feminino. Após o lanche descemos para lavar as mãos e escovar os dentes. Cada criança tem sua toalha com nome bordado. Antes de terminar o recreio um episódio engraçado acontece no sanitário feminino. Uma das meninas suja os pés na terra durante a brincadeira. O lavatório estava incrivelmente limpo. Sem pensar duas vezes ela entra dentro dele e lava seus pés e os calçados, não se preocupandonem um pouco com a sujeira provocada. Voltamos à classe como se nada tivesse acontecido esquecendo, é claro, que a lama deixada no lavatório seria a marca daquela peraltice infantil e motivo suficiente para uma bronca geral.
Já na sala de aulas, ouvimos músicas, historias infantis numa radio vitrola antiga, fazemos trabalhos em massa de modelar, desenhamos, aprendemos as letras do alfabeto e em seguida desfrutamos dos mais relaxantes 15 minutos de sono, debruçados sobre aquelas pequenas mesinhas. As janelas estão encostadas e o silêncio repousante. Só no finalzinho da tarde vamos embora. Todos juntos:Antonia Helena, Monica, Iracema, Fatima, Nanci Gil, Magali Fonseca, Lia de Cassia Silveira, Flavia Biscegli, Elenise, Joana, Salete, Sandra, Sergio,Sidnei, Aroldo, Alceu, Alfredo, Jackson, Celso, Eduardo, Formiguinha e outros mais. Antes a parada na casa da Dona Rute. Deliciosos “pirulitos de guarda chuva” a nos recepcionar. Depois, cada um segue um caminho. Alguns como eu pegam o atalho perto da escola passando pela Vila Pereira, pela Vila Nova, Ilha das Cobras, Volta Fria, Vila Leão. Voltamos cansados para nossas casas. O dia termina com promessas para novas emoções.
Continuarei numa outra oportunidade, numa outra viagem, outras recordações. E se em nova estação eu descer, que seja emocionante como esta,recheada de recordações tão singelas e tão doces do meu Jardim de Infância!
Fatima Chiati
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